Outubro de 1994
- Andréia Janecek
- 19 de jun.
- 2 min de leitura
Atualizado: 1 de jul.
Camila.
32 anos.
Dona de casa.
Casada, mãe de duas crianças.

Camila tem um CD player. É ali que ela coloca músicas leves e alegres pela manhã e, ao final do dia, costuma escolher álbuns de jazz ou, às vezes, blues.
Quando precisa falar com alguém, ela recorre ao telefone de linha, que fica numa pequena mesinha na sala de estar. É por ali que Camila combina de se encontrar com amigas ou convida sua família para um almoço de domingo.
Assim que o marido volta do trabalho às sextas, eles vão juntos à locadora do bairro e escolhem dois filmes para assistirem durante o final de semana: um para verem com as crianças, outro só para os dois.
Quando vai ao salão ou está em uma fila de espera, Camila tem o hábito de ler algumas páginas de um livro para passar o tempo. Vira e mexe a capa do livro chama a atenção de alguém, e conversas longas e agradáveis se desenrolam.
À mesa, a família reunida conversa sobre o dia. Olhos nos olhos.
Algumas vezes por ano, Camila leva as crianças para uma lojinha onde revelam as fotos da câmera. Enquanto esperam, tomam um sorvete ou brincam no parquinho que fica ali perto.
Sempre que precisam pesquisar algo ou ajudar as crianças com trabalhos de casa, Camila e seu marido buscam as informações nas enciclopédias que herdaram da família ou, quem sabe, fazem uma visita à biblioteca da cidade.
Em casa, seus filhos têm, à disposição, blocos de folhas, giz e lápis de cor. Se o tédio aparece, as crianças lidam com ele usando a imaginação ao inventar uma nova brincadeira ou resolvem ler algum dos vários livrinhos que se encontram na estante.
Camila gosta do silêncio em sua mente e tenta sempre usar o tempo em que lava louça, dobra as roupas ou varre o chão para conversar com Deus.
Ela viveu seus 30 anos numa época em que o conhecimento e o entretenimento não estavam ao alcance de suas mãos a todo o tempo. Camila não tinha a praticidade de poder conversar com qualquer pessoa através de mensagens rápidas. Ela não usufruía da comodidade de poder ouvir aulas ou audiobooks enquanto cuidava da casa.
Mas Camila desfrutava de uma grande dádiva: a bênção de poder viver seu dia a dia sem distrações.
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